A exportação de bovinos vivos voltou ao centro do debate público em Brasília após o Brasil registrar, em 2025, o maior volume já embarcado por via marítima. De janeiro ao final de novembro, 952 mil bois foram enviados ao exterior, superando o total de 2024, quando 948 mil animais deixaram o país. Mantido o ritmo, o volume deve ultrapassar a marca de um milhão de cabeças até o fim do ano, consolidando o país como o maior exportador global nessa modalidade, segundo dados do Comex Stat.

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O crescimento do setor, porém, reacende questionamentos sobre seus riscos socioeconômicos, sanitários e ambientais. Esses temas estarão no centro da audiência pública convocada pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) da Câmara dos Deputados, marcada para esta quinta-feira (11), às 10 horas. O requerimento é da deputada federal Duda Salabert (PDT/MG). Entre os participantes confirmados estão representantes da organização internacional Mercy For Animals e integrantes do Grupo de Trabalho Animal da Frente Parlamentar Ambientalista.
A sessão discutirá problemas estruturais relacionados ao transporte marítimo de animais vivos, incluindo condições de bem-estar, impactos ambientais, consequências econômicas e potenciais riscos à saúde pública.
As críticas ao modelo ganharam força após mais um episódio envolvendo falhas graves no deslocamento de gado. O navio Spiridon II, que partiu do Uruguai em 20 de setembro com três mil vacas, foi impedido de atracar na Turquia por irregularidades sanitárias e de identificação. Sem autorização para desembarque, a embarcação só obteve permissão para descarregar os animais em 23 de novembro, na Líbia.
Durante o período de espera, relatos indicaram condições precárias: acúmulo de fezes e urina, odor intenso, carcaças sobre o convés, escassez de água e alimento e presença de vacas gestantes e bezerros recém-nascidos sem assistência veterinária.

O debate também ocorre em meio ao avanço de duas propostas legislativas voltadas a desestimular a exportação de animais vivos por meio de tributação diferenciada, alinhada aos riscos da prática. Ambas conquistaram vitórias recentes no Congresso: o PLP 23/2024, de autoria da deputada Luciene Cavalcante, e o PL 786/2024, apresentado pelo deputado Nilto Tatto.
A audiência pública “Exportação de Animais Vivos por Via Marítima: Impactos e Riscos” reunirá diversas organizações da sociedade civil e especialistas, incluindo Mercy For Animals, Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Gaia Libertas, Agência de Notícias de Direitos Animais, Movimento Nacional Não Exporte Vidas e a pesquisadora Maira Luiza Spanholi, da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). O encontro deve ampliar o debate sobre alternativas e novas diretrizes para a atividade no país.
