A possível aplicação de uma sobretaxa de 50% sobre a carne bovina brasileira pelos Estados Unidos poderá elevar a alíquota total para 76,4%, patamar que, na avaliação da Consultoria Agro Itaú BBA, torna a exportação praticamente inviável. O impacto recairia sobre um mercado que, apesar de ser também um dos maiores produtores e exportadores mundiais, enfrenta déficit crescente na oferta interna, projetado para quase um milhão de toneladas em 2025, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
O atual desequilíbrio no ciclo pecuário americano, com retenção de fêmeas e queda na produção, tem sustentado preços elevados da carne e do gado nos EUA, mesmo com um consumo doméstico resiliente. Nesse contexto, o Brasil ampliou fortemente sua presença: no primeiro semestre de 2025, as exportações brasileiras de carne bovina in natura para os EUA cresceram 132% em relação ao mesmo período do ano anterior, e isso fora da cota tarifária, normalmente esgotada no início do ano.
A tarifa atual aplicada à carne fora da cota já é de 26,4%, o que não impediu o avanço brasileiro. No entanto, a imposição da nova sobretaxa elevaria o custo a níveis que, segundo a consultoria, inviabilizam a continuidade desses embarques. No primeiro semestre, os EUA responderam por 12% das exportações brasileiras da proteína. A China, principal destino, ficou com 49%.
Com a chegada de um bom volume de bois confinados para abate no segundo semestre, a perda do mercado
americano, ou mesmo um enfraquecimento substancial da demanda, pode pressionar os preços do boi gordo no mercado interno. Ainda que o Brasil consiga redirecionar parte desse volume a outros mercados, como costuma ocorrer em reações de curto prazo, os preços de exportação, que vinham em recuperação, podem sentir o baque.
A Austrália surge como principal alternativa para os EUA em caso de recuo das compras do Brasil, graças à maior disponibilidade de carne. Em menor escala, Argentina, Nova Zelândia, Canadá e Uruguai também podem suprir parte da demanda americana. No entanto, a oferta global de carne bovina é limitada, e a realocação dos embarques brasileiros tende a gerar apenas efeitos pontuais de compensação no curto prazo.
A escalada tarifária, caso se confirme, altera significativamente o cenário comercial da carne bovina e reforça a volatilidade nos preços do boi, justamente num momento de maior oferta no mercado interno e ajustes de rota nas exportações.