A safra de soja brasileira deve enfrentar um cenário desafiador nos próximos meses devido à combinação de temperaturas elevadas e irregularidade das chuvas no Centro-Oeste e no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). A avaliação da AtmosMarine, que aponta riscos significativos para o enchimento de grãos e para as fases iniciais de desenvolvimento da cultura, etapas cruciais para garantir produtividade e qualidade.
Segundo o engenheiro agrícola e ambiental, André Pimentel, o clima tem papel decisivo na produção de grãos. “A soja é altamente sensível às variações de precipitação e temperatura. No Centro-Oeste, o período de enchimento dos grãos, que ocorre entre dezembro e fevereiro, coincide com a máxima demanda hídrica da planta. A escassez de chuvas nesse intervalo, associada a temperaturas acima da faixa ideal (24°C a 30°C), compromete não apenas o peso dos grãos, mas também a produtividade, essencial para a economia da região”, explica.

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No Matopiba, uma das principais fronteiras agrícolas do país, a preocupação é crescente. As lavouras implantadas entre outubro e dezembro ficam especialmente vulneráveis a longos períodos de estresse climático, já que a fase de enchimento de grãos, que se estende de novembro a abril, exige elevada disponibilidade de água. “A combinação de chuvas insuficientes e temperaturas elevadas compromete tanto o volume quanto a qualidade da safra, afetando diretamente a competitividade do Brasil no mercado global. Esse cenário reforça a urgência de estratégias de adaptação climática e de um manejo mais eficiente”, observa Pimentel.
As análises meteorológicas mostram que a tendência é de continuidade desse quadro adverso, que aponta que o Centro-Oeste já vem registrando meses consecutivos de temperaturas acima da média. “Desde maio, o aquecimento se tornou predominante e os termômetros permanecem consistentemente acima da média. A previsão é de que essa tendência continue, principalmente em Mato Grosso e Goiás, onde as temperaturas podem ultrapassar 2 °C acima do esperado”, afirma a meteorologista Gabryele de Carvalho.
De acordo com ela, a formação de uma alta em níveis médios da atmosfera deve atuar como bloqueio atmosférico, dificultando a passagem de sistemas frontais e a formação de chuvas no período de transição do inverno para a primavera. “Esse escoamento bloqueado ocorre justamente em um momento em que as temperaturas naturalmente já começam a subir. Em um cenário de aquecimento global, esse processo se intensifica e o calor se torna ainda mais expressivo. A previsão para setembro é de chuvas dentro da média, mas em outubro parte da região deve registrar precipitação abaixo do esperado, o que é particularmente preocupante para o início da safra”, expõe.
A combinação entre calor excessivo e chuvas irregulares aumenta o risco de estresse hídrico e térmico para a soja, podendo comprometer produtividade e qualidade dos grãos logo nas fases iniciais da próxima safra.