A decisão da Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de suspender a Moratória da Soja, anunciada na segunda-feira (18), acendeu um alerta entre especialistas e organizações ambientais. O fim do acordo firmado em 2006, que proibia a compra e o financiamento de soja produzida em áreas desmatadas na Amazônia após agosto de 2008, é visto como um retrocesso que pode aumentar o desmatamento e comprometer a segurança do mercado global de commodities.

Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil
De acordo com levantamento da Agrosatélite, 124 municípios estão dentro da área de abrangência da Moratória, responsáveis por 98% da soja cultivada na Amazônia na safra 2022/23. Para o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), os resultados do compromisso demonstram que conservação e produção caminham lado a lado. “Em 16 anos, a Moratória ajudou a reduzir o desmatamento na Amazônia ao mesmo tempo em que a produção de soja cresceu de forma expressiva. Lançar esse esforço por terra é apostar na insegurança para o próprio mercado e nas exportações brasileiras”, avalia a diretora de Políticas Públicas do IPAM, Gabriela Savian.
Os números confirmam o impacto: antes da Moratória (2002–2008), a média anual de desmatamento nos municípios monitorados era de 11.424 km². No período seguinte (2009–2022), caiu 69%, para 3.526 km²/ano. Ao mesmo tempo, a produção avançou. A área cultivada de soja na Amazônia cresceu 4,5 vezes, passando de 1,64 milhão de hectares para 7,28 milhões de hectares, e a safra 2022/23 registrou aumento de 15,9% em produtividade em relação ao ciclo anterior.
Maior produtor mundial de soja, o Brasil tem no Estado de Mato Grosso o epicentro da produção, com 26% da área

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR
plantada nacional, 65 dos municípios monitorados pela Moratória estão no território mato-grossense. Só em 2024, o setor movimentou mais de 52 bilhões de dólares em exportações.
Para a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, a decisão desconsidera um ponto fundamental: sem floresta, não há produção sustentável. “Amazônia e Cerrado são estratégicos para a agricultura porque garantem água. Sem floresta não tem chuva, e sem chuva não tem soja. O ganho imediato da expansão sobre áreas de floresta pode virar um prejuízo duradouro”, alerta.