Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – A indústria exportadora de café do Brasil vê uma oportunidade de exportar mais grãos canéforas (robusta e conilon) aos Estados Unidos, já que o país sul-americano recebeu uma taxação básica de 10% de Donald Trump, enquanto os maiores fornecedores dessa variedade, Vietnã e Indonésia, tiveram tarifas maiores, de 46% e 32%.
Esse é o cenário se o setor não conseguir reverter as tarifas, em momento em que a indústria norte-americana tem reivindicado ao governo Trump que o café entre em uma lista de exceção isenta de taxas, pois os EUA não são produtores, enquanto figuram como maiores consumidores.
A expectativa também considera que o Vietnã, maior produtor e exportador de grãos robusta, não consiga reverter as tarifas em uma negociação em separado.
“No caso do conilon, teria oportunidade pela tarifa maior dos concorrentes, há oportunidades, mas o cenário é mais de preocupação do que de ganhos”, afirmou diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, ao comentar impactos mais amplos da guerra tarifária na economia, incluindo no preço da commodity.
Os Estados Unidos foram o principal mercado para o café do Brasil em 2024, com compras de 8,13 milhões de sacas de 60 kg, segundo dados do Cecafé, respondendo por uma parcela de 16% das exportações totais brasileiras, que superaram 50 milhões de sacas no ano passado.
Vietnã e Indonésia, por outro lado, respondem por cerca de 2 milhões de sacas consumidas no mercado dos EUA, citou Matos, notando que a maior parte é de grãos robusta.
Isso dá uma ideia do tamanho de mercado ocupado por dois importantes fornecedores mais afetados pelas tarifas anunciadas por Donald Trump.
Embora o Brasil tenha suas exportações bastante concentradas em grãos arábica, os embarques de canéforas brasileiros para todos os destinos superaram 9 milhões de sacas em 2024.
Na safra 2025, cuja colheita começa a chegar ao mercado ao final de abril, a expectativa de especialistas é de uma queda na produção de arábica brasileira, mas um aumento expressivo nos canéforas.
Sobre um impacto mais amplo da guerra comercial para o mercado de café, Matos observou que o consumo de café costuma ser “inelástico” mesmo em crises, como aconteceu durante a pandemia de Covid-19. Mas ele se mostrou preocupado.
“O café costuma ser resiliente em crises econômicas…, mas óbvio que tem limites, pode crescer menos”, comentou.
“Olha o tamanho da guerra comercial entre EUA e China, o receio que isso se contamine, isso gera problemas no PIB global, e aí todos perdem…”
O Cecafé não chegou a fazer um levantamento de custos adicionais com a tarifa de 10% para o Brasil –antes, a importação de café verde pelos EUA era isenta de taxa.
Mas considerando que o faturamento das exportações do Brasil aos EUA somou cerca de US$2 bilhões, o custo seria equivalente à tarifa de 10%, disse Matos.
“Poderíamos estar em situação muito pior, estamos na tarifa mínima…”, disse ele, considerando que o Brasil tem condição de pelo menos manter a fatia de vendas aos EUA.
Um cenário mais favorável, contudo, seria que o governo dos EUA enquadrasse o café em uma lista de exceção com tarifa zero. Matos argumentou, com base em estudos do setor nos EUA, que para cada dólar relacionado ao café importado, há a geração de US$43 para a economia norte-americana. Ele disse ainda que o setor gera 2,2 milhões de empregos.
“Estamos tentando ir nesse lado (da lista de exceção), mostrando o benefício do café para a economia.”
(Por Roberto Samora)