O mais recente relatório da Hedgepoint sobre os mercados de milho e trigo indica um cenário global de oferta abundante e preços em acomodação. A instabilidade macroeconômica internacional, influenciada por tensões geopolíticas, ajustes monetários e desaceleração da demanda, tem contido qualquer reação mais consistente nas cotações das commodities agrícolas, mesmo diante de fatores pontuais que poderiam sustentar os preços.

Fotos: Jaelson Lucas
No caso do milho, os Estados Unidos lideram com uma safra recorde estimada em 427 milhões de toneladas, sustentando exportações robustas e preços competitivos. A China, por sua vez, apresenta uma queda relevante na relação estoque/uso, o que pode impulsionar importações adicionais caso as condições comerciais se tornem favoráveis.
Já o Brasil enfrenta desafios para atingir a meta de exportações, com destaque para o crescimento da demanda interna via etanol de milho, que tem ajudado a absorver parte da oferta local, segundo Thaís Italiani, gerente de Inteligência de Mercado de Grãos & Oleaginosas da Hedgepoint Global Markets.
Na Argentina, o aumento de área cultivada e a redução temporária das “retenciones” estimularam vendas intensas, com potencial de exportação de até 37 milhões de toneladas. “Esse movimento, somado à competitividade dos EUA, pressiona o espaço exportador brasileiro”, diz Luiz Fernando Roque, coordenador de Inteligência de Mercado de Grãos & Oleaginosas da Hedgepoint Global Markets.


Trigo
No mercado de trigo, a União Europeia apresenta uma recuperação produtiva significativa, com estimativa de 140 milhões de toneladas e queda nas importações. A Rússia, com impostos de exportação praticamente zerados, reforça a pressão baixista global. A Ucrânia, ainda afetada pela guerra, mantém oferta restrita, enquanto a Argentina inicia a colheita com boas condições e expectativa de exportar até 13 milhões de toneladas, grande parte destinada ao Brasil.
Segundo Roque, o índice de preços de milho e trigo segue pressionado, refletindo a ampla oferta e a concorrência acirrada entre os principais players globais. “A expectativa é de um viés neutro a levemente baixista nas próximas semanas, com possíveis movimentos de alta condicionados a eventos climáticos, como o retorno do La Niña, ou ajustes nos dados oficiais de produtividade, especialmente nos EUA”, diz.


